Fúria de Titãs

20.2.06

A sua bênção, Vadinho.

Sempre tive interesse pelas catedras da linguagem. Parte pelo horror ao ouvir petardos como "menas" ou "mano", parte por influência de meus progenitores. Ela, mestra em letras e literatura. Ele por sua vez, dono de uma intimidade ímpar com bem-falar e escrever. De Oswald à Suassuna, de Maquiavel à Gregório de Mattos, de Balzac a Nelson Rodrigues, adotei de pronto a irreverência em minhas incursões ao folhear de páginas, fazendo jus a minha posição de rebelde da prole. No entanto, foi a película baseada em uma das obras de Jorge Amado que me abriu os olhos aos horizontes da velhacaria.

Lembro-me da primeira vez que assisti Dona Flor, quando o Wilker imortalizou a canalhice em uma daquelas cenas que ficam tatuadas na memória. Ao adrentrar em um distinto prostíbulo, Vadinho era apaludido pelas prestadoras de serviço, pelos cafifas, bêbados, farrapos...e acenava ao povo dizendo "Porreta!! Porreta!!". Venerado tal qual Juscelino na inauguração de Brasília, o anti-heroi personificou as apirações de geraçõoes de caras-de-pau, não somente pelo folclore que envolvia o personagem, mas por ter mandado uma tremenda brasa na Sonia Braga, que naquela época, era um "Croquetão"*.

Naquele momento, percebi que tinha encontrado o Graal. Sim! Seria esta uma das minhas missões nesta vida...ser ovacionado em estabelecimento semelhante, com a mesma distinção e fidalguia. Quissá, pensei eu, poderia um dia atingir a excelência de Vadinho.

Moleque de classe média paulistana, aprendi rápido que a noite de Sampa não é lugar pra amadores. Apesar de não ser chegado ao sexo trocado por papel moeda, peguei gosto pela mistura do whysky "escocês" com o amendoim e a pipoca murcha servidas nas boates. Tais iguarias finíssimas, costumam ser temperadas com uma dose excessiva de cloreto de sódio e outras substâncias que nunca identifiquei propriamente, causando um torpor de sensações incríveis no organismo. Junte a isto, a visão de corpos femininos desnudos, sinuosos e rebolantes. Cataclisma: um coquetel bombástico que geralmente expõe a faceta mais patética e vulneravel de um caboblo: a cegueira temporária causada por uma ereção massiva. Definitivamente o fluxo sanguineo desigual foi uma falha de engenharia lamentável do Criador.

Recusei-me a ser mais uma presa dentro daquelas alcovas. Optei por aprender com os erros e mancadas de outrém, posicionando-me como o gerenciador de situações extremas. Desta forma, consegui galgar níveis superiores na hierarquia prostibular, gozando da aprovação de damas, cafiolos, maitres e seguranças nervosíssimos que não mediam esforços para "acalmar" alguns clientes exaltados sobre diferentes pontos de vista em relação ao valor de consumo de bebidas ou atitutes deselegantes para com as profissionais. Um destes verdadeiros armários, policial reformado que atendia pela alcunha de "Lábios de Mel", tinha um poder de persuasão bestial. Presenciei diversos galinhos-de-briga sucumbirem a seu jugo diante da milenar arte do quebra-dedos ou do pesco-tapa de mão aberta. Um espetáculo digno das arenas romanas. Muitos no entanto, foram salvos por minha intervenção providencial, o que fez surgir de maneira descompromissada um novo personagem: Mael, o parcimonioso.

Fazia uso da psicologia no aconselhamento às beldades trazendo o sorriso e o entendimento à sua dura realidade. Utilizava também de minha formação acadêmica em Propaganda e Marketing nas sugestões de melhoria de produtos e serviços junto aos contratadores. Socializava-me com os trabalhadores(as) dos recintos, compadecendo-me quando da descrição de suas mazelas ou celebrando suas conquistas no dia-a-dia. Esta faceta nunca beirou a falsidade ou a perfídia. Trata-se de um talento natural no entendimento da natureza humana. O mesmo aplicava-se a meus pares.
Este seleto grupo de cavalheiros conhecido por "Puff Brothers"** tornou-se habituê de um dos mais tradicionais lupanares da paulicéia que, juntamente com o saudoso "La Licorne", faz parte da história boêmia da metrópole: o Executivo Bar, na R. 7 de Abril.

Colecionei amizades, histórias impagáveis e andei por caminhos tortuosos nessa empreitada, até que certa feita, ao descer a lúgubre escadaria que leva aos portais helênicos do Executivo Bar, ouvi a chamada de meu nome no sistema: "Gostariamos de agradecer a presença de nosso grande amigo Mael! Mael e amigos! Sejam bem-vindos!"

Um turbilhão de emoções encheu minh'alma naquele momento, ao mesmo tempo que diversas mancebas largavam seus afazeres e corriam em minha direção em efeito tsunami para saudar-me calorosamente, tal qual as mulheres de Athenas cantadas por Chico.

Elevei minhas memórias ao pretérito e percebi que Vadinho fora recriado em uma versão urbano-contamporânea e, triunfante, adentrei ao recinto sob uma chuva de pipocas e pétalas dizendo: "Porreta!!! Porreta!!".

Mael

* Croquetão: Gíria "prá-frentéx" utilizada nos anos 70 que identificava pessoas sexualmente desejáveis. Vide o filme "A Dama do Lotação"
** A confraria dos Puff Brothers frequentou o Executivo Bar ao longo dos anos 90 e seus segredos até hoje são guardados por um rigoroso código de silêncio.

15.2.06

Desvendando a "Síndrome do Depois"

Ao contrario da pluralidade filosofal, do eterno improvável, da memória paquidérmica e das infinitas possibilidades que envolvem o pensar e o agir da turma do genoma XX, o universo masculino é sim, extremamente singular e previsível...ousaria dizer até facilmente manipulável, como certamente minha colega co-autora pode atestar.

Com o tocar das cornucópias, resolvi abrir a caixa de pandora sobre segredos e os motivos milenares que, desde nossos mais longínquos antepassados, envolvem a indiferença masculina pós-coitum: a infame "Sindrome do Depois"

Este evento se alastra em progressão geométrica e vitima com saia justíssima milhares de homens de bem (e do mal), fadados a utilização de linguagem fática e esfarrapelas diversas após a troca de fluidos corporais. A sensação do querer não estar, sublimar se possivel...ou mesmo fazer-se de louco e correr nú pelas ruas para atenuar a dor que o aguilhão do remorso nos trás. Pela clava de Might Thor!! Fizestes esta defecagem outra vez!!???

Rogo ao mulhereto que atentem para detalhe de importância importantíssima: não se trata do sentimento desgraçado trazido pela sobriedade após o uso de LEM - Líquido Embelezador de Mulheres - Este merecidamente revela-se quando descobrimos que não nos deitamos com Gilda, mas com o Exú Caveira pulando em brasa quente. Nazareno!!!! .(Tema que será discutido em capítulo específico: "O Teorema de Léo Jaime"). Au contraire, a SD é implacável, cruel e não poupa as mais belas flores.

Minha idiotice masculina revelou-se cedo. Mais especificamente a capacidade de incorrer no mesmo erro diversas vezes...over and over....and over again. Fui rasgado pela SD antes, durante e depois. Cobaia de minha própria cobiça.

Quantas vezes andei na linha tênue dos comentários sobre o clima, cigarrinhos estratégicos apesar de não ser fumante e/ou inverossímeos compromissos de ultima hora as 3 da manhã. Quantas vezes, voluntaria e involuntáriamente, causei a dúvida, o choro, a cólera, a insegurança, enjóo, azia e má-digestão? Ferí. Nesse processo, felizes são somente os motoristas do rádio taxi fazendo a férea em bandeira 2 ao quadrado de madruga.

Certa feita, o inexplicado entendimento me bateu à cara. Acometido pela SD em uma fazenda no sul do país, encontrei-me em um estabulo tal qual um roedor, literalmetne fugindo da cama de uma mulher belissima. Sábia nutureza. Observei. Após a furiosa corte preliminar e a rápida cobertura da fêmea, o reprodutor volta-se imediatamente à pastagem...indiferente, apático...quase humano. Tracei de imediato o paralelo de como nos comportamos no Motel: abrindo uma gelada e, com o controle remoto em mãos, símbolo máximo da cretina supremacia masculina, mudamos impacientemente a transmissão de "Backdoor Sluts - 8" para um emocionante jogo de bola Seleção Junior do Equador X Serra Leoa ou mesmo um digestivo episódio do Chapolim Colorado. Aliás, aquele em que ele diz...deixa pra lá.

Com efeito, percebi que não há cura, paleativo, guizado, unguento ou poção. A fé irá falhar e mais uma beldade ficará com cara de "Sinhá Maricota!! cadê o frade??". Mas nem tudo esta perdido: há a prevenção. O intercurso sem um mínimo de cumplicidade levará ao mal. Seria a febre-do-rato ou estaria eu admitindo a necessidade ....do amor??? Admito. Por isso mesmo é que há de haver mais compaixão e muito, muito mais do que o simples movimento de atrito. Afinal, diferentes dos equinos, temos a capacidade do livre arbitrio e a habilidade de tecer estratagemas, digo as mulheres...os homens via de regra, exceto pela cauda, poderiam estar no mesmo grupo quadrúpede.

Lembro-me de um loiraça que conheci patinando nas calçadas de South Beach na Flórida...usava uma camiseta apertada com uma frase distorcida pelos seios fartos, cheios de polímeros: "i have the tool, i make the rules". Vencedora será a mulher que utilizar-se-á desta premissa com sabedoria. E idolatrado, carrergado nos braços da povo, o homem que puder contar detalhes a respeito daqueles peitões. No caso, este humilde titã atraz do teclado. Muito obrigado pelos aplausos, mas não precisa ir longe Sherlock...apos a selvageria com a loira, fui abatido pela pena capital.... mais uma vez, a Síndrome do Depois...

Mael

14.2.06

Apresentaçao: Permita-me penetrar em V. leitura, dignissimos interlocutores


Pretenciosos que somos, divulgaremos aos mortais nossos pensamentos, vitorias, derrotas, as batalhas campais que concernem os encontros e desencontros da existencia terrena, dos relacionamentos, da atividade fornicativa e da canalhice light auto-sustentada. Em páginas pares e ímpares paralelas ou não em sua temporaridade, verossímeas ou não em relação a seus personagens, abusaremos dos clichês, da sua paciência e dos valores imutáveis. Sê bem-vindos. Abra uma garrafa de um bom vinho. Esta é a Fúria de Titãs.

Genesis - Para Lucila, minha visao da Co-Autora

Ausente de qualquer modéstia, minha natureza de exímeo contador de causos e servidor da palavra não me bastam nessa narrativa.

Foi há exatamente um decênio, em uma dessa situações ridículas que o tédio e o acaso nos colocam pela frente. À medida que fomos trocando as figurinhas da vida, e as risadas nos fizeram engasgar com os fermentados, destilados e alcalóides presentes em cada ocasião, percebi que a mitologia estava equivocada.

Por Zeus!! Seria possível a co-existência harmoniosa de 02 titãs em um mesmo campanário?? Reconheci de pronto a envergadura de Lucila, a "Gatinha". Entre seus diversos feitos dignos dos 12 trabalhos herculanos, realizei quantos bufões caíam dioturnamente a meu derredor e como tantos outros ja haviam se curvado e eram magistralmente titereados por ela. Estaria eu finalmente diante de meu mais formidável nêmesis??

Ao medir nossas forças, sapientes, decidimos ser desnecessária a intervenção de Perseu. De maneira subliminar, estabelecemos um pacto de "não-agressão", pois em verdade vos digo: a confluência desordenada de 02 titãs pode trazer efeitos devastadores.

Hoje tenho o dobro de minha altura pela soma com Lucila. Regozijo-me por sua capacidade de orquestração e partilho o sorriso de canto de boca a cada corpo que cai. Para ti, minha querida amiga "Gatinha", um ósculo na face...obviamente após a lambida.

Mael